O brasileiro Lui Iarocheski, participará da semana de moda de Vancouver (Canadá) – clique aqui para ver o post que fiz sobre o evento. Confira a entrevista exclusiva que eu fiz com o estilista:
– Lui conte um pouco sobre a sua história, como e quando decidiu estudar moda? Como foi seu início de carreira?
Sou natural de São Miguel do Iguaçu, Paraná, e vim para Florianópolis (SC) para cursar Relações Internacionais. Depois de um ano cursando Relações Internacionais e vendo a melhor universidade de Moda do Brasil no quintal de casa, resolvi prestar o vestibular para o curso de Moda da UDESC. Portanto, digo que minha relação com a moda foi se fortalecendo e acontecendo aos poucos. Apesar de sempre ter tido forte aptidão artística, nunca havia cogitado o cursar Moda, até mesmo por alguns preconceitos e ambições que tinha até então.
Quando consegui entrar para o curso de Moda da UDESC em 2010, descobri os vários caminhos que a Moda poderia me dar. Trabalhei por quatro anos fazendo a direção criativa das coleções de grandes marcas do segmento eyewear. Contudo, foi só após uma experiência de intercâmbio na renomada universidade de Moda sueca – The Swedish School of Textiles – que decidi que era o caminho da criação/design que eu queria trilhar. Na Suécia tive o contato com uma nova visão de design de moda – muito mais autoral, experimental e sem dúvidas, vanguardista, o qual apliquei no desenvolvimento da minha coleção de formatura aqui no Brasil.
Minha coleção de formatura, inspirada na obra “Parangolés” de Hélio Oiticica, logo chamou a atenção pelo sua expressão visual conceitual. Sem muito tempo para respirar, logo depois de apresentar a coleção no desfile de formatura, embarquei para apresenta-la na final de um concurso internacional.
Em paralelo, fomos reunindo ao longo de um ano, um grupo de pessoas apaixonadas por Moda aqui em Florianópolis e criamos o GRUPO WNEXT. A empresa é toda pautada no modelo de negócio social e buscamos desenvolver pessoas, a cultura, a responsabilidade sócio-ambiental, ideias inovadoras e o pólo de moda local através de ações inspiradores. Acreditamos que a moda é uma grande ferramenta para inspirar pessoas e mover o mundo.
A minha marca – IAROCHESKI – está sendo a primeira a ser acelerada dentro deste modelo de negócios e esperamos entrar com nosso produtos no mercado até novembro deste ano.
– De quais concursos participou? Já desfilou em quais eventos? Há alguma diferença entre desfilar no Brasil ou no exterior?
Em Dezembro de 2014, apresentei pela primeira vez minha coleção no OCTA Fashion – evento no qual os formandos da UDESC apresentam suas coleções de formatura.
No mês de Abril deste ano fui anunciado como um dos nove finalistas do RG Designer Award em parceria com o site Not Just a Label e desfilei minha coleção em Viena, na Áustria. Dos nove designers finalistas do mundo todo que apresentaram suas coleções, levei pro prêmio na categoria ‘voto popular’.
Fui pré-selecionado também para uma das etapas do Gen Art Fresh Faces of Fashion, mas não consegui avançar para a final.
No começo de Agosto recebi o fabuloso convite do Vancouver Fashion Week para participar da semana de moda que acontece agora no final de setembro. Desde então, estou focado e muito entusiasmado trabalhando para deixar a coleção de 16 looks masculinos pronta para o evento.
Participar de um evento no exterior te coloca em contato com profissionais que te dão um feedback importantíssimo, além de te colocar numa experiência que te motiva a levar o teu trabalho adiante. Parece que as coisas acontecem de forma mais orgânica e as propostas estéticas são melhores aceitas no exterior. Os eventos no Brasil ainda são pouco democráticos e priorizam outras questões que não o trabalho autoral aplicado ao produto de moda.
– Quais são suas expectativas para o Vancouver Fashion Week?
Estou deveras motivado e entusiasmado para participar do Vancouver Fashion Week. São raras as semanas de moda que abrem as portas para novos criadores apresentarem suas criações e expor novas ideias no tocante ao produto de moda. Estou trabalhando para levar para o VFW, além do meu DNA criador, também um pouco do perfil de moda brasileira que foge dos estereótipos de araras e bananeiras. Vejo o Vancouver Fashion Week como uma oportunidade para expor meu trabalho, receber o feedback importante da indústria e também espero abrir portas para que outros designer brasileiros participem futuramente.
– Sobre a sua marca, quais são os diferenciais? Qual o DNA das suas criações e qual linha criativa você mais se inspira? Qual peça que você criou que foi mais marcante?
Creio que o principal diferencial da marca é unir uma nova expressão visual de moda com a responsabilidade sócio-ambiental. Nossa proposta é uma nova forma de estudar, ver, criar, explorar, apoiar e fazer moda. Envolve a moda diretamente no desenvolvimento de pessoas para consequente transformação social. Unimos a exclusividade do feito à mão e de outras técnicas tradicionais com a experimentação e inovação da vanguarda. A expressão visual final são produtos autorais, com forte carga artística e que conversam com um consumidor de perfil introspectivo e preocupado em afirmar sua identidade através do consumo consciente.
O DNA das minhas criações é predominantemente austero, espontâneo, desconstruído e dinâmico – o preto é cor poética marcante e as formas amplas e dinâmicas permitem com que o usuário use a peças de maneiras diferentes. Apesar do corpo masculino estar presente durante quase todo meu processo de criação, a maioria das peças atendem o gosto de ambos os sexos. Por muitas vezes trabalhar com o material diretamente sobre o corpo, puxando, fazendo dobraduras e cortes no tecido, as peças se aproximam das veias do japonismo. Aliás, a linha criativa que mais me inspira é a praticada pelos criadores japoneses, como Yohji Yamamoto, Rei Kawakubo, Junya Watanabe e Issey Miyaki, para citar alguns.
As peças que criei que até hoje chamam a atenção das pessoas, são as capas amplas feitas com um design têxtil que desenvolvi costurando cordas de algodão umas as outras. As capas de cordas são grandes retângulos com alguns cortes estratégicos para que o usuário as vistam como ponchos ou casacos. Outras peças que vem agradando tanto homens quanto mulheres, são as calças com saiote feltrados e o kimono em crepe de seda.
– Qual dica você pode dar, para os homens se vestirem? Acha que é possível usar itens de passarela no dia-a-dia?
Acredito que os homens poderiam explorar mais novas linguagens e novas maneiras de apresentar sua identidade com o ato de vestir. Muitos estereótipos do masculino e paradigmas do vestuário podem ser rompidos ou recriados para vermos por aí mais criatividade e individualidade na moda masculina e menos uniformização. A adoção dos falados ‘itens de passarela’ são uma forma de alcançarmos essa diversidade estética que a moda do dia-a-dia precisa.
– Qual dica você pode dar para quem quer ser um estilista?
Romper e recriar com conceitos já estabelecidos. A função de um estilista deve ser de atuar a priori no intuito de antecipar o desejo das pessoas – tornar real através da criação o desejo por algo que as pessoas ainda não sabem que querem. A Moda não precisa de inovação pela inovação e o mundo já está esgotado com ‘commodities’ do vestuário. É preciso criar roupas com voz.
Ser fiel com o que você acredita e fazer algo que ajude as pessoas é uma fórmula coerente com o espírito do tempo que vivemos. Faça tudo como se fizesse para você mesmo.
Não se preocupe em ter que saber fazer de tudo e se aproxime das pessoas certas.
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