Economista por formação e músico por deleite, conheça melhor o designer de joias Jack Vartanian, cujas criações vestem importantíssimos nomes, como Gisele Bündchen, Anne Hathaway, Natalie Portman e Rachel Zoe.
Jack finalizou em 2013 a pós-graduação em gestão que fazia em Harvard desde 2010. Na bagagem, ele trouxe de volta um desenho mais detalhado do plano de internacionalização de sua marca, o que inclui mais dez lojas nos Estados Unidos. A expansão no exterior vem acompanhada de um duro discurso sobre a realidade da economia brasileira e do mercado de luxo nacional.
Confira esta ótima entrevista com o renomado designer contemporâneo, que, para quem não sabe, é também marido da modelo Cássia Ávila.
Quais as lições aprendeu com esta graduação em Harvard?
Jack Vartanian: O curso, OPM (Owners and Presidents Management), me deu uma visão melhor de gestão, de como usar os números de forma mais assertiva, ajustar o coach para montar equipe, liderança e um desenho mais claro da expansão internacional da marca. Para mim, é complicado conciliar o homem de negócios com o posto de diretor criativo da empresa. No curso eu era o único assim, meio um alien.
Há um interesse crescente pelo design brasileiro no exterior?
JV: É um interesse geral pelo Brasil, não só pelo design, mas pelos grandes eventos que acontecerão aqui. É um pouco burro como o mundo trabalha, em ondas. Não mudou muito nos últimos anos, mas chegou uma onda e todos estão de olho. É meio uma manada: a onda é no Brasil e daí vem o mercado de luxo e suas marcas todas querendo abrir loja aqui. As que chegam, muitas não vão bem. As que estavam, vão melhor, porque já sabem como funciona o mercado aqui. Tem que fazer um transfer price baixo, mandar o produto com preço bem enxuto para cá porque é muito taxado. Enxuto, ele pega um nível de taxa menor e consegue cobrar um preço final que faça a operação andar. Em geral, não são operações rentáveis, são para expansão da marca mesmo, visando o futuro.
Você enfrenta as mesmas dificuldades com seus negócios em outros países?
JV: Não, o Brasil é que é complicado mesmo. A Índia está bem mais desregulamentada, a Ásia em geral está mais aberta aos negócios. A Europa tem alguns países que ainda trabalham de um jeito estúpido, antiquado, como a França.
E como o mercado de diamantes reage a crise na economia mundial?
JV: Quase como o mercado financeiro. Quando você tem um produto que não tem muita dificuldade de mobilidade, é rápida a fuga. Historicamente, foi um mercado muito forte na Península Ibérica, depois foi para a Holanda, Bélgica e agora se concentra em Israel, Nova York, Hong Kong e Índia. Esta era uma discussão boa nas aulas em Harvard. Perceber como os países que desregulamentam mais seus tributos, evoluem, e como aqueles que apostam em modelos falidos ficam para trás.
E como o economista Jack Vartanian avalia o Brasil neste cenário?
JV: Me formei em Economia mas sempre me interessei mais pelos fatores sócio-políticos. O Brasil caminha porque o consumidor aqui está tão acostumado com essa confusão, e o País tem esse porte e essa vontade do empresariado e dos consumidores que entraram com o Plano Real. O Brasil está sustentado nisso: Plano Real e Bolsa Família, esse tipo de coisa que traz um aquecimento do mercado que não se sustenta, tanto é que as contas não estão fechando. Daí ficam tentando tapar buraco. O problema é claramente a burocracia, os custos trabalhistas e fiscais, é muito claro. Se mexer nisso, é imediata a melhora.
O mercado de luxo brasileiro cresce ano após ano. Que avaliação faz disso?
JV: Os índices são ruins no varejo de luxo. Há uma saturação no consumo, a classe AB está endividada, já tivemos o boom e tem de fazer outro. E não terá outro se não mexer nas questões tributárias. Não se sustenta 30% a 40% de tributação na produção, não no lucro. O lucro você pode tributar como quiser, porque já faturou. Agora tributar a operação, você está sufocando. E quando quiseram tributar demais, como fez a França, tem gente que vai embora, como o ator Gerard Depardieu, que foi para a Rússia. E fez muito bem. As pessoas topam pagar, mas o sensato.
Suas joias vestem mulheres de todo o mundo. Tem alguma personalidade que gostaria de vestir?
JV: A Michelle Obama. Porque acho que o mundo está vazio de pessoas que tenham um ideal e trabalhem por ele de forma não corrompida. É como gostaria de ver as primeiras-damas do País.
Acredita que falte uma postura política dessas pessoas?
JV: Sim, e sinto falta disso também na arte. Acho que deveria ser mais engajada de maneira geral. A arte começa desse papel. Sinto falta desse rock anos 1970 e 1980, que proponha discussões e caminhos. Dizem ao artista que é bom para a sua carreira você fazer filantropia na África, mas talvez fosse melhor você ter um engajamento político e questionar: por que aquele país não está funcionando? Quem é o presidente? O que esta acontecendo de errado? E derrubar essa pessoa. Porque a gente fica aqui catando as latinhas na rua para tentar ajudar em alguma coisa, enquanto está jorrando dinheiro para a corrupção no mundo inteiro e ninguém fala nada disso.
Esta discussão cabe ao Brasil fazer também?
JV: Evidente. Acho que não cabe mais numa cidade como São Paulo, tão metida, e um País que está ficando tão arrogante e metido a ser o lugar mais legal do mundo e ter um rio (Tietê) que fede coco! Tudo está errado. Como pode? Você não arruma aqui, seu banheiro está sujo, e você fica arrotando caviar como nação? Acho que o Brasil e o mundo tem um lado muito superficial, uma psicopatia. Virou todo mundo muito bacana e o Brasil está na moda e vira uma mentira. Acho que sim, o Brasil tem potencial, mas tem de usá-lo direito.
* Entrevista realizada por Fabiano Mazzei para o portal B|Luxo