Ant Smith tem um pênis menor do que a média: mede dez centímetros ereto, o que alguns chamariam de pênis pequeno. Hoje, aos 48 anos, ele não tem dificuldade em admitir isso –nem mesmo em falar e escrever sobre o assunto–, mas nem sempre foi assim.
“É muito difícil identificar o momento em que comecei a me preocupar. Era um menino muito tímido e nunca me senti confortável nos vestiários da escola”, conta.
Foi quando um amigo fez um comentário jocoso que perguntas começaram a vir à sua cabeça: “Tenho o pênis pequeno? O que significa pequeno?”.
Essas perguntas o perseguiram por bastante tempo, até que enfrentou a situação e passou a tratá-la com bom humor.
Festa
A questão historicamente mobiliza homens e é motivo de piadas –além de assunto de inúmeros e-mails de spam prometendo “consertar o problema”.
Smith diz que o fato de ter um pênis pequeno dificultou seus relacionamentos amorosos “e tornou o sexo um verdadeiro desafio”.
“Sentia-me constantemente envergonhado e por isso nunca ia à academia ou usava banheiros públicos”, fala.
A primeira pessoa com quem Smith falou abertamente sobre o tema foi sua mulher, com quem está casado há 18 anos.
Aos poucos, ele notou que, quanto mais falava sobre o assunto, mais percebia que era “algo menos relevante para os outros do que ele pensava”.
“A maioria das pessoas faz piada com pênis pequeno, por parecer divertido, não por querer humilhar ou constranger”, afirma.
E, em março do ano passado, ele decidiu organizar um evento em Londres: a primeira “Grande Festa do Pênis Pequeno”.
O objetivo era permitir que homens pudessem falar francamente sobre seu corpo sem se sentirem complexados.
Mais de cem pessoas, entre homens e mulheres, participaram da noite de poesia, humor e música em torno do tema.
Tamanhos
Segundo o “British Journal of Urology”, para que um pênis seja considerado “pequeno” deve medir menos de 9,16 centímetros quando em repouso.
De acordo com o médico David Veale, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Londres, no Reino Unido, e autor de um estudo sobre o tema de 2015, o tamanho médio (mundial) de um pênis ereto é de 13,12 centímetros.
Segundo Veale, cerca de 2,28% da população masculina têm um micropênis (menos de cinco centímetros sem ereção), o que pode ser “devastador para o senso de masculinidade da pessoa”, diz.
Mas isso está longe de ser consenso. O médico Enrique Fabián Bonaño, da Associação Espanhola de Andrologia (ASESA, na sigla em espanhol), defende não haver uma “medida padrão”.
Segundo Bonaño, no caso do micropênis, “existem técnicas cirúrgicas que, em mãos hábeis, podem ajudar”, apesar de ele admitir que não é “muito partidário” desse tipo de procedimento, “por não ter uma constância de resultados realmente satisfatórios”.
Por outro lado, Veale diz que “são muitos os homens que buscam ajuda em consultas com urologistas e sexólogos, preocupados com o tamanho de seu pênis, apesar de terem um de tamanho normal”.
“Esse transtorno é conhecido como a síndrome do pênis pequeno (SPS, na sigla em inglês), e os homens que sofrem dela podem também ser diagnosticados com dismorfia corporal (BDD), uma preocupação excessiva e angústia com o tamanho do pênis.”
O especialista garante que a ajuda psicológica para quem sofre dessa ansiedade é “muito necessária”.
Pressões e reações
De qualquer maneira, o tema é motivo de preocupação para muitos homens.
Graham, de 33 anos, cujo pênis é menor do que o padrão internacional, participou da festa de Smith e conversou com a BBC.
“Acredito que, hoje, (o tamanho) provavelmente importa mais para a própria pessoa do que para o restante do mundo”, disse Graham, que recorda se sentir complexado desde a época da escola.
“Cheguei a um ponto da minha vida pessoal em que quase não saía, evitava qualquer interação. Definitivamente, acredito que sofri. Tive poucas namoradas. Fico nervoso em ter intimidade, não tenho confiança o suficiente”, contou.
Segundo o médico Bonaño, “existem muitos preconceitos sociais com temas relacionados à sexualidade”. E acrescenta: “Talvez ajudasse se houvesse mais informações a respeito desse assunto”.
“Passei muito tempo fingindo ser alguém que não era ou fingindo estar bem”, prosseguiu Graham. “Gostaria de ter sido mais honesto comigo mesmo, mas não necessariamente mudaria, porque gosto bastante de como sou agora.”
Para Ant Smith, no entanto, a questão é muito mais simples. “O sexo vai muito além do tamanho do pênis”, diz ele, apesar de admitir que existem “pressões sociais” e “uma imagem idealizada por parte da indústria pornográfica e dos meios de comunicação”, o que gera uma “visão distorcida do que é o normal”.
A maneira de enfrentar a questão, defende ele, é “ser honesto e franco”. “Deixem de mentir sobre o tamanho de seu pênis. Não contribuam com o mito.”