O período é de grandes mudanças para a moda. A moda mundial se transforma em compasso com os anseios da sociedade pós-internet. Estamos vivendo uma grande revolução, estamos formando um novo marco na história. E a moda brasileira, que compreende uma pequena e humilde fatia do bolo, adapta-se como pode para não ser engolida pela globalização moderna.

Moda sem gênero, semanas de moda unificando  os desfiles masculino e feminino, mudanças de calendário cortando estações (a exemplo da SPFW nº 41). Superadas todas essas questões, o grande debate tem girado em torno da tendência see now, buy now, já adotada por algumas marcas nessa edição da SPFW, mas que em 2017 vem para ficar.

Desfile Ellus Second Floor

Desfile Ellus Second Floor

As opiniões de especialistas no assunto por vezes convergem, ora se antagonizam. Como em tudo na vida há sempre dois pólos: entusiastas e críticos, inovadores e conservadores, e, descolados e resistentes. Visões diferentes de um mesmo assunto, ou até um problema, mas que fazem parte e são necessárias até que se chegue a um consenso.

Certamente o momento que vivemos reflete um espírito contemporâneo. Sim, hoje quem faz moda não são apenas grandes estilistas, nem um nicho privilegiado de jornalistas, alta sociedade e mídia.  A era pós-internet impôs mudanças drásticas na moda mundial. Ou muda e se estabelece, ou vocês perdem para quem acompanha o ritmo da maré.

A instantaneidade e a velocidade com que as coisas são postadas via internet só aceleraram o acesso da moda ao grande público. Sim, aquele que até ontem só tinha informações por jornais, periódicos e revistas têm acesso fácil e rápido com conteúdo e em tempo real. O desfile de agora está fotografado daqui a 10 minutos em todos os cantos do Globo Terrestre. Pasmem, isso se o reles mortal da esquina não acompanhou tudo ao vivo.

O snapchat foi a mídia tecnológica mais usada na SPFW. Bundinha no sofá, chocolate ou pipoca, como queiram e, é claro, desfiles, ao vivo. Blogueiros, amantes da moda e até leigos, querendo se aparecer, mostravam tudo em tempo real.

Conclusão: os padrões de moda mudaram e mudaram drasticamente. Então não dá mais esperar para comprar a peça desfilada hoje, só daqui a seis meses. Mesmo porque esse é o tempo para as fast fashions copiarem, de replicarem inúmeras peças de qualidade igual ou superior por um preço muito menor, com baixo custo, já que se fez apenas copiando, sem um processo inventivo e com estilista.

Era hora de mudar. A Burberry, a Semana de Moda de Nova York e até a Semana de Moda de São Paulo adotaram uma nova prática. A prática intitulada “see now, buy now” funciona mais ou menos assim para quem ainda não sabe. Desfilou agora, em seguida os produtos estarão expostos à venda.

Há quem recrimine? Sim. Chanel e Dior já se mostraram contrárias às mudanças. Por razões óbvias a alta costura é contrária a essa adaptação ao mercado.  Mão de obra especializada, materiais de qualidade não facilmente encontrados nem substituídos, produção detalhada e que demanda um maior tempo. A magia da alta costura não pode morrer, já que o topo é o conto de fadas. Sem ela nada existiria, logo essa prática vai de encontro a tudo que a alta costura idealiza.

Mas enfim, esse é um processo voltado especificamente à necessidade contemporânea do mercado e que promete vir com tudo. Nessa última edição da SPFW a Ellus Second Floor e Karl Lagerfeld para Riachuelo já aderiram a esse propósito. Aliás, a Riachuelo levou o assunto ao pé da letra e colocou araras na passarela, expondo as peças á venda.

Desfile Riachuelo por Karl Lagerfeld

Desfile Riachuelo por Karl Lagerfeld

Muito legal tudo isso, agora a gente vê e já pode comprar. Mas para moda o que isso significa? Onde vamos parar? A aceleração de produção e o encurtamento de tempo entre passarela/consumidor pode implicar muito além do processo de compra e venda.

Esquecemos do processo criativo, da mão de obra em condições desumanas (que não pode ser escrava), do uso de indevido de recursos ambientais, da mutação constante da moda, da necessidade de consumo do novo e consequentemente do descarte do velho, produzindo-se abundância de resíduos. Além do aumento de poluição para acompanhar o espaço/tempo do consumo.

É uma tendência revolucionária e com ares promissores muito bons, já que podemos ter tudo a hora que quisermos. Só não podemos nos esquecer que mais que consumir é consumir conscientemente e para isso está ai o Slow Fashion para nos alertar e nos conscientizar. Onde vamos parar com essa produção acelerada? Ainda não se sabe, só espero que o caminho a ser seguido seja o correto.

Diogo Rufino Machado.

 

Advogado, blogueiro em vários portais de moda (Homens com Estilo, Trend Coffee e Opiratastyle), ariano, amante de Moda e de música eletrônica