Por Ana Stella Guisso, site Guia da Semana.
Não é de hoje que os chifres costuma adornar a cabeça dos homens. Mas as estatísticas comprovam que ele está cada vez mais comum no universo dos namorados e maridos. De acordo com um estudo realizado pela antropóloga Mirian Goldenberg, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), feito com 1279 pessoas, 47% das mulheres afirmaram já terem sido infiéis, apenas 13% a menos do que os homens.
Outra pesquisa feita em onze países da América Latina, divulgada em outubro, apontou que os brasileiros são os campeões da infidelidade e os que possuem maior número de parceiros sexuais ao longo da vida: uma média de 12. Das mulheres que participaram do estudo, 56,4% traem ou traíram seus parceiros, contra 70% dos homens. Isso acabou sendo reflexo das alterações no âmbito das relações conjugais, em que as mulheres foram galgando pela igualdade em tudo, até mesmo na questão da infidelidade.
O terapeuta e consultor de relacionamentos, Sérgio Savian, revela que tradicionalmente os homens pulam mais a cerca do que as mulheres, mas essa situação está mudando e o comportamento está tornando-se cada vez mais unissex. Para a antropóloga, mesmo assim, ainda existe um privilégio masculino. “O homem é o único que se percebe como sujeito da traição. Enquanto a mulher, mesmo quando trai, continua se sentindo como uma vítima, que no máximo reage à dominação masculina”, conta Mirian.
Motivos que levam à traição
Segundo Mirian Goldenberg, autora do livro Por que homens e mulheres traem?, ambos os sexos apresentam razões divergentes para cometer a infidelidade. “Os homens justificam suas traições por meio de uma suposta natureza masculina. Já as mulheres infiéis dizem que seus parceiros – com suas faltas e ‘galinhagens’ – são os verdadeiros responsáveis por suas relações extraconjugais”, relata.
No discurso dos pesquisados, a culpa da traição é sempre do homem: seja por sua natureza incontrolável ou por seus inúmeros defeitos no relacionamento. Mirian destaca que as mulheres reclamaram mais da falta de intimidade com seus parceiros, enquanto os homens queixaram-se da falta de compreensão de suas namoradas ou esposas. “Esse descompasso de desejos entre o casal, pode ser a chave para compreendermos a questão da infidelidade”, afirma Mirian.
Savian levanta outros motivos que deixam a mulherada cair em tentação, como o fato delas se sentirem desvalorizadas pelos seus parceiros ou por algumas serem belas demais e não resistirem ao assédio. Por fim, ainda existem aqueles exemplares do sexo feminino que gostam naturalmente da variedade e entendiam-se com uma relação monogâmica. (Veja mais motivos abaixo)
Mas, aquela máxima de que a mulher precisa de um motivo para trair e o homem apenas de uma outra mulher funciona como uma faca de dois gumes. De fato, a maior parte deles precisa apenas ter vontade de experimentar alguma relação diferente para serem infiéis. Em contrapartida, a mulher tende a culpar seus companheiros para tonar-se aparentemente desculpadas. “No fundo, somente elas é que são as responsáveis pelo ato da traição”, fala Sérgio Savian, que dá várias dicas de relacionamentos em seu site www.sergiosavian.com.br.
Tendências para usar chapéu de viking
O terapeuta conta que não existe um perfil definido para o homem que costuma ser traído, mas existem certas pré-disposições que ele possa ter, como ser mais pacato ou ter pouca energia sexual. Os rapazes que costumam desprestigiar e desvalorizar suas mulheres também são bons candidatos a conquistarem alguns galhos na cabeça.
Mirian também compartilha sobre a indefinição de um perfil dos homens traídos, mas relata que absorveu uma ideia intrínseca ao comportamento de todos os entrevistados que já usaram chapéu de touro: eles preferem fazer vista grossa à infidelidade. “Criei, então, a partir dessa observação uma espécie de cegueira voluntária, consciente e deliberada, que é o conceito de ‘(in)fidelidade paradoxal’, pontua a antropóloga.
Para justificar sua teoria, Mirian baseia-se no fato de que a fidelidade tornou-se um valor cultuado, mesmo as pessoas sabendo que são efetivamente infiéis. O segundo ponto é que os homens prezam mais pela ilusão da fidelidade, pois preferem acreditar que suas parceiras não os traem.
Para quem testa o peso extra dos chifres na cabeça e decide continuar com a relação amorosa, precisa de uma carga extra de sabedoria, amizade e cumplicidade. Já Savian afirma que é preciso perdoar, deixar o passado para trás e olhar para frente, sem mágoas, ressentimentos ou insegurança. Mas, isso não é tarefa fácil para ninguém e a tendência é que a traição seja sempre uma pedra no sapato dos dois.
Relatos de carne e osso
Conheça um pouco da história de três mulheres que traíram seus parceiros e os reais motivos que as levaram a presentear seus namorados com o chapéu de viking. O terapeuta de relacionamentos, Sérgio Savian, deu seu parecer sobre cada caso. Confira!
Em dobro
Lais*, 24, publicitária. Tem uma tendência à traição desde pequena, já que não conseguiu ser fiel nem mesmo ao seu namorado de infância, com 12 anos. Em seu primeiro relacionamento de verdade, que começou os 18 anos, ela conseguiu levar os três primeiros anos com escapadinhas leves, mas já rolava certa insatisfação com a relação. “Eu tinha muitas dúvidas se daríamos certo, pois ele era conservador em muitas coisas e queria moldar-me ao seu jeito”, explica.
Ela começou a se envolver com um colega de trabalho e conseguiu levar o namoro com os dois, ao mesmo tempo, sem um descobrir sobre o outro por oito meses. A publicitária precisou ter muito jogo de cintura e revela que, para conseguir manter seus relacionamentos, não misturava amigos com os namorados, não apresentava para a família e costumava chamá-los de nomes genéricos, como amor, ou dar apelidos parecidos para não confundir os nomes, além de desligar o celular quando estava com um deles.
Ela já chegou a se sentir culpada, mas esse sentimento acabou passando. Lais deixou os dois e foi morar na Argentina em 2008. Ficou até agosto deste ano e voltou com um novo namorado. Ele é argentino e deve vir para o Brasil só daqui dois anos. Desde então, ela voltou com seu primeiro namorado. “Dessa vez, gosto realmente dos dois, mas de maneiras diferentes. O brasileiro é o cara certo para casar, já o argentino tem aquela coisa de feeling. Ainda tenho muito tempo para definir com quem vou ficar”, acrescenta.
Análise do terapeuta: “Laís é o tipo de mulher que tem uma libido acentuada e um só homem é incapaz de satisfazê-la. Ela gosta da variedade e sua vida tenderá sempre a ser sempre assim”.
Flores para elas
Eduarda, 24, estudante de Biomedicina. É o tipo de mulher que a maioria dos homens gostaria de ter ao seu lado: bonita, simpática e inteligente. Mas, que nem todos costumam dar valor enquanto namora. Foi o que aconteceu com ela há quatro anos. Ela tinha um namorado de dois anos que não demonstrava sentir ciúmes e a incentivava a sair sozinha, quando não estava a fim de acompanhá-la. “Isso me irritava porque eu queria sair, mas com a companhia dele”, revela. No entanto, acabava indo para a noite com seus amigos.
Uma vez, ela foi jantar com uma amiga da faculdade e parou no caminho para pedir o direcionamento do restaurante em uma farmácia e, ao chegar ao estabelecimento, havia um buquê de flores e um bilhete escrito: “Você é encantadora. Meu nome é Pedro e meu celular é …”, conta. O rapaz, que estava na farmácia, foi o grande motivo de uma briga entre Eduarda e o namorado.
No entanto, a discussão ocorreu, mais uma vez, por ele não ter demonstrado ciúmes dela, logo após saber que havia recebido flores de um estranho. Esse fato foi o propulsor para a estudante traí-lo em mais uma das festas que o namorado não a acompanhou. Como já estava com muitas dúvidas sobre a sinceridade dos sentimentos do cara, Eduarda nem sentiu culpa pela traição e continuo com ele por mais três meses, sem que o parceiro nem desconfiasse.
Análise do terapeuta: “Eduarda é muito bonita e por isso bastante assediada. Acostumada em ter seu ego massageado pelos homens, ela têm grande necessidade de ser reconhecida, elogiada, valorizada. Mas, essa situação é uma faca de dois gumes, pois, se você elogia muito uma mulher, ela perde o interesse. Já se a trata mal, com o tempo, ela reclama. Não é uma tarefa muito fácil para qualquer homem namorar uma mulher tão bonita”.
Mais que amigo
Rafaela ,32, aeroportuária. Teve um relacionamento de oito anos, sendo que seis deles eles morou junto com seu namorado. Ela é ativa, vivaz e sempre esperava mais atitude do seu parceiro. Ele é do tipo preguiçoso, passivo com a vida e achava que sempre estava tudo bem na relação. Após quatro anos vivendo como marido e mulher, Rafaela acabou se envolvendo com um rapaz. O cara era marido de uma amiga e participava do círculo de amizade do casal. A traição aconteceu várias vezes e, no início, rendeu-lhe muita culpa. “Fiquei mal pela minha amiga, não pelo meu marido”, revela.
Além da passividade do parceiro, Rafaela também se queixava da vida sexual que levava, não pela qualidade, mas pela quantidade. “Para o meu marido, estava bom ter relações uma vez por semana, no entanto, para mim não”, fala. Ela acabou arrastando seu casamento por mais dois anos e acrescentou que deve ter transado com seu marido por, no máximo, três vezes durante todo esse período.
Análise do terapeuta: “Rafaela foi casada com um homem com pouca energia sexual e isto criava uma grande insatisfação, tanto que precisava de um reforço fora da relação. Quem sabe, se ela casasse com um homem com mais pegada e mais energia, talvez ela não precisasse traí-lo”.
Saiba quais são os principais motivos que levam os homens e as mulheres a cometer a traição, de acordo com o estudo da antropóloga Mirian Goldenberg.
Mulheres | Homens |
– Insatisfação com o parceiro; – Falta de amor; – Para levantar a autoestima; – Vingança; – Não se sentirem desejadas. |
– Instinto masculino; – Atração física; – Tesão; – Oportunidade; – ‘Galinhagem’; – Hobby; – ‘Testicocefalia’. |
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