Por trás do ritual de amarrar uma gravata no pescoço todas as manhãs há mais que um gesto burocrático. Essa peça de roupa, introduzida no vestuário masculino no início do século XIX, é hoje o caminho para um homem exercitar a sua criatividade em toda a plenitude. Essa peça transmite um estilo de vida e de comportamento, e é a mais perfeita tradução da cultura ocidental em forma de vestuário.
A história da gravata remonta à da própria roupa. Os primeiros registros da sua existência vêm da antigüidade. Nas esculturas em relevo da coluna de Trajano, Roma, monumento criado para festejar a vitória sobre os Dácios no começo do século II, está registrado o uso de foulards (os “focales” romanos), lencinhos amarrados em torno do pescoço dos legionários com um pequeno nó, com a função de proteger o pescoço do sol e enxugar o suor. Também há sinais de uso do foulard entre as hostes do imperador chinês Qin Shi Huangdi, por volta do século III D.C., como se pode verificar nos exércitos esculpidos em terracota descobertos por arqueólogos em 1974.
A moda do uso de gravatas foi lançada na França por volta de 1650, notadamente por membros da elite que adotavam no seu modo de vestir inspiração eminentemente militar. Assim como as grandes perucas, a gravata não tinha qualquer função prática, mas mesmo assim seu uso espalhou-se. Foi levada para a Inglaterra e para as colônias americanas pelo imperador Charles II, em seu retorno do exílio na França.
De lá para cá, a gravata sofreu grandes modificações, evoluindo com o tempo, e foi objeto de culto de muitos homens elegantes. Escritores famosos escreveram tratados sobre ela, como Honoré de Balzac que, no início do século XIX, sob o pseudônimo de um certo Barão Émile de LEmpesé, editou e prefaciou um compêndio “gravatológico”.
Por varias vezes, as gravatas estiveram a ponto de ser banidas do guarda-roupa masculino. No final dos anos 60 foram tachadas de “burguesas” durante passeatas estudantis e só não se transformaram nas mais odiadas peças do vestuário porque as feministas preferiram, naqueles tempos, queimar sutiãs. O fato é que os adolescentes de então, que naqueles anos decretaram que as gravatas eram coisa do passado, passaram a delirar com elas quando se tornaram homens de negócios. A partir daí, elas passaram a sofrer grandes variações, variando das estampas florais às riscas largas e aos desenhos geométricos.
Hoje, a gravata pode ser considerada peça-chave da roupa masculina. Sua função prática é esconder a fileira de botões da camisa, mas sua função maior é conferir personalidade a quem a usa. O escritor e semiólogo Umberto Eco, em sua obra Psicologia do vestir, ressaltou a importância poética e a função de expressão visual e de forma de liberdade que ela representa no mundo moderno. Como a roupa masculina não apresenta por tradição variações, sobretudo para os adeptos dos ternos mais clássicos, é na gravata que o homem pode exercitar sua criatividade e dar um toque pessoal até mesmo ao seu tradicionalíssimo terno azul-marinho.
Fonte:
Elegância, como o homem deve se vestir
Fernando de Barros, Negócio Editora.