21 de maio de 2010, Eleição 2010: as roupas de Marina, Serra e Dilma transmitem a mensagem certa?
Por Milene Chaves
Em ano de eleição, um candidato à presidência tem uma infinidade de itens importantes com os quais se preocupar. O programa de governo, a agenda da campanha e o próximo palanque tomam tempo suficiente das 24 horas disponíveis no dia. Diante desse cenário, pensar em roupa é, no mínimo, impensável, correto? Errado. O visual, como qualquer outra imagem, vale por palavras – e os candidatos Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) bem sabem que não é só em cima de um palco, microfone em punho, que se transmite uma ideia. O que não garante que estejam andando com as calças certas.
“Existem dois discursos: o estético e o semântico. O estético diz respeito à aparência; o semântico, à comunicação verbal”, explica Gaudêncio Torquato, professor de comunicação política da USP e especialista em marketing político. “Pesquisas nessa área mostram que o impacto causado por um candidato provém 93% da estética e apenas 7% do discurso verbal”. Segundo os dados em que Torquato se baseia nos seus trabalhos de consultoria, os 93% acima citados ainda se dividem: 55% correspondem a expressões faciais e 38% a elementos paralinguísticos, como a entonação da voz, a postura e o visual. Isso quer dizer que o look – roupa, cabelo, maquiagem, acessórios – responde por praticamente 40% da impressão que um político imprime.
Será exagero dizer que roupa faz perder eleição? “Se a margem for apertada, pode ser que sim”, arrisca Paulo Vicente, professor de educação executiva da ESPM do Rio de Janeiro e ex-sub-secretário de planejamento estratégico do governo Sérgio Cabral. “Há pessoas que simplesmente não entendem o que está sendo discutido. Já vi na TV gente dizer que vota em quem é mais bonito”. Na dúvida, é melhor se aprumar. Foi o que eles fizeram. Dilma suavizou o visual com blusas de seda e um novo corte de cabelo. Serra dobrou as mangas e tirou a gravata para adotar um ar mais despojado. Para parecer menos eco-radical, Marina não sai de casa sem um acessório étnico, confeccionado por ela mesma, ou com um xale colorido (ela tem uma coleção de 50), e mantém os cabelos eternamente presos.
A ironia é que suas novas decisões fashion não ganharam exatamente a mesma interpretação pelos quatro especialistas ouvidos por VEJA.com. Os cabelos de Marina, por exemplo, tanto podem transmitir seriedade, quanto demonstrar descuido. “Nenhum dos candidatos tem um estilo pessoal definido”, justifica a consultora de moda Helena Montanarini, há mais de vinte anos na área. A mesma opinião tem Alexandre Taleb, personal stylist. “O político deve se vestir para o seu público-alvo”, diz ele, que cuida do visual da vereadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) desde 2005
Quando o estilo, que funciona como uma marca, é acertado, é possível entender o que o sujeito pretende só de olhar para a sua roupa. Nessa linha, o presidente boliviano Evo Morales e seus paletós de motivos indígenas denunciam seu nacionalismo. Carla Bruni, a primeira-dama da França, adotou peças de estilistas famosos para parecer sóbria, mas sem deixar de ser notícia. Michelle Obama, que mistura roupas grifadas a outras de lojas baratas, denota que está atenta a todas as questões. Os nossos candidatos, pelo visto, ainda não estão claros em seus propósitos.
http://veja.abril.com.br/noticia/variedades/look-eleicao-2010-roupas-marina-serra-dilma-transmitem-mensagem-certa-562072.shtml