Um assunto que está em ascensão e pauta em muitos artigos e rodas de conversas é a “toxicidade” das coisas, isto é de maneira coloquial, caráter de algo tóxico, ou seja, algo prejudicial ao organismo. Este termo deixou de ser apenas usado para se referir assuntos médicos e farmacêuticos, e se fez presente em assuntos sociais, a qual se refere aos malefícios de ideias equivocadas ou ultrapassadas que são estabelecidas na sociedade. Segundo o dicionário Oxford, a expressão mais pesquisada do ano de 2018 foi “masculinidade tóxica”. Nestas ultimas décadas, muitas ideias que eram estabelecidas para nossa sociedade foram sendo questionadas, analisadas e debatidas, de maneira que hoje essas mesmas ideias parecem um absurdo para nós, como por exemplo: mulheres deveriam ficar em casa cuidado do lar enquanto o marido trabalhava.
Em uma época em que o feminismo está se fortalecendo cada vez mais e as mulheres estão ganhando destaque e igualando-se aos homens, essa ideia é um absurdo. No entanto, a ignorância da sociedade e, principalmente, de homens que foram criados em famílias a quais viam as mulheres como submissas aos seus maridos, fizeram com que muitos homens acreditassem nessa ideia. Dessa forma, esses homens acabam acreditam que eles devem ser superiores às mulheres e/ou a outros homens considerados inferiores a eles.
O machismo enraizado em nossa sociedade traz consigo propostas arcaicas que visam à superioridade masculina a cima de tudo e de todos, não pensando em quem está a sua volta e/ou nas modificações sociais. Assim como as mulheres lutaram para serem ouvidas e saíram da submissão masculina, há homens que estão lutando para saírem dessas mazelas impostas a eles.
Diversos artigos classificam a masculinidade tóxica como uma descrição estreita e repressiva da masculinidade que a designa como definida por violência, sexo, status e agressão, é o ideal cultural da masculinidade, onde a força é tudo, enquanto as emoções são uma fraqueza; sexo e brutalidade são padrões pelos quais os homens são avaliados, enquanto traços supostamente ‘femininos’ – que podem variar de vulnerabilidade emocional a simplesmente não serem hipersexuais – são os meios pelos quais seu status como ‘homem’ pode ser removido.
Dessa forma, a masculinidade tóxica traz ideias que influenciam a supressão de sentimentos, encorajamento da violência, falta de incentivo em procurar ajuda, até coisas ainda mais graves, como perpetuação encorajamento de estupro, homofobia, misoginia e racismo.
Homem não chora
No entanto, a toxicidade masculina não precisa ser necessariamente visualizada apenas através de alguma ação violenta. Essa toxicidade está presente em diversos comentários que passam despercebidos no dia a dia. Estes comentários são tão simples e cruéis ao mesmo tempo, e passam tão despercebidos por conta do pensamento e criação machista em que a nossa sociedade convive.
“Homem não chora”, “homem não pode usar rosa porque é uma cor de mulher”, “churrasco bom é aquele feito por um homem de verdade”, ”o homem que tem que mandar em casa”.
Você como homem já deve ter ouvido dezenas de comentários como estes, ou até mesmo já ter dito. Se você está se sentindo envergonhado por ter dito alguma dessas frases, tudo bem, o importante é saber que a partir de agora você deve eliminar todas estas frases da sua vida. Se você não se sentiu envergonhado e pensou que são apenas afirmações, recomendo que você repense sobre seu comportamento, pois este é um comportamento de homem tóxico.
A insistência em bater no peito e dizer que é um homem de verdade é, visivelmente, o desespero masculino em parecer “fraco” e “inferior” em relação a outros homens. Afinal, os garotos são criados para serem competitivos, seja no futebol, seja em uma queda de braço, ou até mesmo para conseguir conquistar a garota mais desejada.
Uma pesquisa recente mostrou que homens têm uma maior dificuldade em comer pratos vegetarianos ou se tornarem veganos em função da ideia de que o homem de verdade é aquele selvagem, o qual na natureza os homens que caçavam a carne eram os mais fortes, mais poderosos, mais viris, eram os mais bem-sucedidos.
Exemplos de ocasiões em que a masculinidade tóxica é prejudicial a você:
No trânsito
Já foi o tempo em que apenas o homem podia dirigir. A única distinção entre homem e mulher na direção, é o uso agressivo das palavras e até mesmo atitudes, como por exemplo, quando há uma batida de carro na estrada. Segundo o Ministério da Saúde, acidentes de trânsito são a segunda maior causa de mortes externas no país, sendo 82% dos casos fatais do sexo masculino.
Na saúde
Um exemplo claro disso, é você se recusar a fazer o exame de próstata, porque por algum motivo você acha que isso afetará sua masculinidade. Outro exemplo é você não querer tomar remédio ou ir ao hospital, pois isso é “frescura”.
A masculinidade tóxica nos afeta psicologicamente, já que muitas vezes nossos sentimentos são reprimidos e por medo de expressá-los e ser criticados ou zombados, fingimos que não existem, guardando-os e assim, limitando nossos pensamentos e nos maltratando. Não é a toa de que a maioria dos casos de suicídios no Brasil é feito por pessoas do sexo masculino.
Na escola ou no trabalho
Na adolescência, muitos garotos são caçoados pelos colegas quando se preocupam demais com os estudos e com a organização, pois muitos garotos são criados para fazerem o mínimo de coisas consideradas “femininas”. Essa ideia de que organização é para as garotas, pode prejudicar a vida escolar ou o rendimento de trabalho do homem.
A agressividade
A ideia de agressividade é imposta ao homem desde quando criança. Ao longo dos anos, com o desenvolvimento dos músculos e da força, o garoto se sente forte o bastante para querer arrumar briga por qualquer besteira. Até porque, segundo as ideias machistas, “homem de verdade” não leva desaforo para casa e resolve os problemas na agressão mesmo. Dessa maneira, o individuo se torna agressivo, até mesmo com pessoas próximas a ele.
O maior exemplo de que essa ideia influencia de modo direto a vida do homem é a agressão contra a mulher, a qual o homem acha que a mulher deve ser submissa a ele, de modo a não questioná-lo em suas atitudes. Segundo Samira Bueno, diretora-executiva da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), há 536 casos (de violência contra a mulher) por hora no Brasil e quase a mesma proporção de mulheres que dizem ter sido vítima de algum tipo de violência sexual. O número de mulheres que sofreram espancamento é assustador (1,6 milhão). Todos esses dados remetem à violência doméstica: 76,4% das mulheres conheciam o autor da violência, a maior parte aconteceu dentro de casa.
Tendo em vista os fatos mencionados, é necessário que você deixe os conceitos de uma sociedade antiga e arcaica, de modo que você possa se tornar um homem moderno. Visando a melhoria de sua saúde, sua qualidade de vida, do seu emocional e até mesmo a sua segurança. Cuidar de si mesmo não fará de você menos homem, isso mostrará que você se importa com as pessoas ao seu redor que se preocupam com você.