Tratar do assunto moda para os Blogs e revistas muitas vezes é falar de celebridades, desfiles, tendências, entre outras coisas. Não que isso não seja importante. É sim!
Contudo, muitas vezes nos esquecemos de pequenos detalhes. Detalhes esses, culturais, de educação, de sentimento ou de comportamento, que influenciam nosso modo de pensar e de agir. Estou falando de conceitos, padrões e mitos que criamos sobre determinadas coisas.
Na moda, isso não é diferente. Sei lá quem foi, mas um dia convencionaram que homem não usaria saia, que rosa era coisa de mulher, que certas cores não combinam e que há peças que não se casam.
Vou falar especificamente aqui da breguice. Temas abstratos como esse não são fáceis de falar. Não são mesmo nem fáceis de compreender. Ouso-me aqui a tentar discorrer sobre o tema. Espero que consiga.
Primeiro, o que é ser brega? Muitas vezes ouvimos isso na rua, “Fulano é brega ou cafona”, “Olha o vestido de cicrana que brega”.
Pelo pouco que vejo, pessoas são taxadas como bregas por estarem fora do dito padrão do momento. Padrão esse que pode em virtude de peças, combinações ou cores. Ou seja, elas usam peças que não estão sendo usadas no momento, combinam cores que a imensa maioria não combinaria ou usam peças que hoje ninguém mais usa. É como usar laranja com verde limão, usar calça big de antigamente ou combinar sapato social preto com meio branca à La Michael Jackson.
A segunda coisa a ser questionada, é brega na concepção de quem?
“X” está brega na minha, na sua ou na concepção do estilista, da marca, do stylist, da loja etc.? Isso é muito relativo, o que pode ser bom para mim pode não ser bom para você. Logo, ao considerar alguém brega ou cafona, partimos do olhar do nosso umbigo, que contém informações de cultura, educação, meio e momento histórico nossas. Partimos do pressuposto que apenas a nossa maneira de se vestir é boa.
Logo, a breguice está nos olhos de quem vê. A breguice é um estado mental. Um estado mental de puro sentimento de superioridade e de pré-conceito com relação ao outro.
Em pleno século XXI, cada vez mais pregamos a liberdade e suas variantes (pensamento, expressão e ir e vir), a igualdade de direitos e a defesa das minorias. Mas na hora de pensar com relação ao próximo, agimos diferente. Sempre queremos que ele esteja próximo à gente, compartilhando dos nossos mesmos desejos.
Na moda, vivemos em muitas ocasiões esse momento inverso. A necessidade de vender, lucrar e trazer rotatividade ao mercado faz com que existam coleções, tendências, peças do momento e que cada vez mais ousamos falar em fast fashion. Tudo muda tão rápido que o quê ontem era moda, hoje é brega e depois volta a ser moda novamente. O pior de tudo isso, é que há tanta gente tapada por ai que não se dá conta disso. Atônitos a tudo isso, limitam-se apenas a seguir e estar dentro do padrão, criticando e vendo com maus olhos aqueles que estão fora do contexto.
Por tudo que já foi explanado vemos que a breguice na realidade não existe, que ela é nada mais é que uma parte da intolerância humana e que um dos princípios norteadores da moda é criar, inventar e mudar, daí a necessidade de se termos pessoas que não a seguem, já que justamente da sua reinvenção é que surgem novas peças, novos tecidos, novas combinações e novas tendências.
Isso é o legal das coleções. A diferença está no diferente e nunca paramos para notar e pensar sobre isso. O mundo fica melhor com mais cores, sabores e valores diferentes. Temos que aprender a conviver com o diferente e a prender a respeitá-lo.
Na realidade fica uma lição aqui, não há certo nem errado. Cafona ou não. O que há são diferentes gostos. Cada um com o seu. Cada um com a sua maneira de se vestir. E a nós cabe apenas respeitar. Concordemos ou não.
È claro que ninguém é obrigado a concordar com nada. Ninguém é obrigado a ver uma blusa verde limão de bolinha roxa com calça dourada e achar lindo. Mas ninguém tem o direito de olhar para aquilo e achar brega, porque isso inferioriza não apenas a roupa, mas a pessoa.
Lembrem-se um dia o que era brega virou moda e vice e versa. Por isso, assim como pregamos liberdade e respeito em muitos outros campos, na moda não poderia ser diferente. Breguice é algo que está na sua cabeça, nada mais.
Diogo Rufino Machado.
Advogado, blogueiro em vários portais de moda (Homens com Estilo, Trend Coffee e Opiratastyle), ariano, amante de Moda e de música eletrônica